5 de março de 2010
Entrevista com Bill Aucoin (primeiro empresário do KISS), em 1997, na Atlanta KISS Expo.
Retirado da revista Rock brigade edição 8. nº 47.
Q- Qual sua reação ao saber da Reunion Tour?
Bill- "Eu tentei por muitos anos fazer Gene e Paul trazerem todos para tocar juntos novamente. Mas eles ainda tinham muitas coisas pessoais para resolver… confesso que é muito bom vê-los juntos novamente. Posso dizer que o show, agora, é muito bom. Mas é basicamente, fora uma ou outra coisa, o mesmo show que faziam lá por 1978… Me lembro que no começo desse show achei que faltava um pouco de brilho… e eu esperava aquelas coisas que nós usamos nos anos 70, como a escadaria em torno dos amplificadores."
Q- O que você está fazendo agora?
Bill- "Estou numa nova companhia. Eu deixei o showbusiness por um tempo, depois do grande sucesso trabalhando para Billy Idol. Agora estou começando numa nova companhia chamada "Dreamscape", com sedes em New York e Miami."
Q- Recentemente foram lançados muitos livros sobre o KISS… você teve a chance de ler KISS AND SELL?
Bill- "Apenas alguns capítulos. Chris foi nosso “tour accountant” e começou desde cedo, e, logo, já fazia suas anotações… ele estava conosco na maior parte do tempo e, claro, cuidava do dinheiro, mas era um cara bem popular entre nossa equipe nas turnês…"
Q- Conte-nos um pouco sobre as primeiras turnês?
Bill- "A ‘road crew’, pelo que me lembro, ganhava cerca de $50 dólares numa semana para despesas extras, mas todos amavam o grupo… nós tocávamos em qualquer lugar que aparecia. Me recordo que uma vez nós recebemos um telefonema do Canada e o cara disse: 'Não temos palco!'. E eu disse: “E eu com isso?” Ele me disse para tocarmos numa cafeteria e eles iriam colocar mesas juntas como palco… Posso dizer que eu tinha uma equipe que amava a banda tanto, que jamais poderia ignorar o que eles fizeram. Isso era assustador às vezes, Peter ficava sempre alerta com o suporte da bateria porque tinha uma corrente que o segurava, então ele teve de criar uma ‘mágica’ para esconder que algo estava segurando aquilo. Eram duas barras de aço que ficavam atrás daqueles amplificadores falsos, e dentro tinha uma corrente que segurava tudo. A idéia original era a bateria levitar... "
Q- Fale sobre o período dos 3 primeiros discos.
Bill- "O primeiro disco vendeu, na época, talvez 60 ou 70 mil cópias, não tenho mais noção pois não contabilizei tudo. O segundo, umas 80 mil. Naquele ponto, acabaram com meu dinheiro. Não sei se você sabe, mas, "Dressed To Kill" foi produzido por Neil (Bogart, presidente da gravadora Casablanca) porque nós realmente não tínhamos condições de contratar um produtor. Ah, aqueles ternos… Peter tinha um terno mas ninguém jamais ousaria usá-lo, então eu fui até meu guarda-roupas e peguei alguns… Eu pensei numa coisa mais cara nos primeiros protótipos para a capa do disco, e elas quase quebraram a mim e Neil. Nós nem cogitávamos a possibilidade de deixar a Casablanca (Records), mas nós estávamos tendo problemas em algumas coisas, pois Neil nunca nos pagava os royaltyes… Neil nunca admitiu que não nos pagava como deveria, nós todos sabíamos o que estávamos fazendo, principalmente porque precisávamos nos manter… mas nós não tínhamos um bom argumento para acabar com aquilo, e Neil fazia um certo teatro, mas era um tipo de cara que você tinha que dar as mãos – ele era bom, muito bom… então ele sentia, tipo, ‘hey, eu avisei os garotos, tenho que me importar com isso’. E eu digo, esse não é o ponto. O ponto é que nós precisávamos de contratos. Se algo acontecesse, seria um tombo de todos… Nós, de jeito nenhum, iríamos aos tribunais, e, naquele ponto, Neil tinha "Alive" e nós nem sabíamos o que estava acontecendo. Sabíamos sim que éramos grandes na estrada… E no meio daquilo, recebi uma ligação da Atlantic Records: ‘Hey, escutem, me digam se estão querendo deixar Bogart. Venham até nós!’ Depois disso, ameaçamos sair (da Casablanca), foi quando recebemos nosso primeiro cheque… de 2 milhões de dólares, e não me lembro exatamente como começou isso, mas, os cheques começaram a vir e eu nunca tinha visto tantos zeros em minha vida!"
Q- Agora nos fale do final dos anos 70…
Bill- Em 1978, nós fizemos 119 milhões de dólares em um ano – cerca de 55 milhões só de merchandising. De fato, escreva isso, estamos falando de mais ou menos 300 milhões até ali… mas Ace estava muito infeliz, e de certa forma a banda também, pois eles queimavam tudo, e realmente quase acabamos com tudo prá valer na época do "The Elder". The Elder, na verdade, não era propriamente um disco do KISS, mas sim um disco de Bob Ezrin, pois não era necessário fazer aquilo, naquela época… Chegamos a gastar 2 milhões de dólares com as gravações… o lado psicológico começou a se abalar e as finanças podiam acabar…
Q- Conte prá gente sobre o show em Shreveport, que é mencionado no livro "KISS AND SELL". É verdade que Peter simplesmente parou de tocar no meio do show?
Bill- "Sim, ele fez isso. Ele começou a diminuir as batidas até parar de vez. Peter era muito emocional, muito sensível… e Gene deve ter dito algo prá ele…"
Q- É verdade que Gene e Paul são perfeccionistas?
Bill- "Eu não posso dizer perfeccionistas, Gene é mais orientado pelo dinheiro mesmo… ele nunca foi um grande músico, mas ele tinha “a força”, ele podia fazer coisas que os outros, mesmo sendo melhores músicos, jamais fariam. Deixa eu dar um exemplo: você pode vê-lo voar até o topo do palco, no grid de luzes. Inicialmente eu tive essa idéia para Paul, porque Gene já cuspia fogo, sangue… então eu bolei isso para Paul… e Paul não quis fazer! Não adianta, Gene era o cara para essas coisas. Aconteceu o mesmo com o lance do Gene cuspir fogo. Ironicamente, no meu escritório, nós tínhamos um cuspidor de fogo, dos bons. Ai Gene disse que alguém da banda deveria fazer isso, e não um outro cara, e eu disse: “Bom, já que é assim, quem gostaria de tentar?” E, claro, Gene disse: “Eu, oras…"
Q- Nos fale da história sobre o acidente de Peter, que demoliu um Porsche...
Bill- "O acidente aconteceu na época que filmávamos “KISS Meets The Phantom”, em 1978... os caras passavam por maus bocados, especialmente Peter e Ace. Aquilo que eles sempre reclamavam a respeito dos sets de filmagem: "Apresse-se e espere." Peter passava por inúmeros problemas com drogas e álcool, e naquele ponto, antes de terminarmos as filmagens, ele tinha um Porsche 928 e viajou a uma festa. Dizem que viram um poste, um semáforo e jamais se lembraram do que aconteceu depois. Supostamente ele e um ‘road manager’ foram jogados para fora do carro… que se incendiou, não sei como não morreram… Fui ao hospital visitá-lo, e a primeira coisa que ele disse quando me viu, foi: “Você por um acaso sabe se minhas drogas ainda estão no carro?” Ainda bem que (agora) Peter está limpo, o que é bom para todos. Lembro de ter dito a ele: “Ah não, não acredito que está me perguntando isso!”… Então eu fui até onde estava o que sobrou do carro, e ele estava completamente derretido… Peter tinha um pequeno "drug case" (um estojo para guardar medicamentos) que havia me falado, e tinha ficado embaixo do banco do motorista. Nunca pensei que alguém poderia abusar tanto daquilo e ainda se sair bem, como aconteceu com muitos Rock and Roll Stars…"
Q- Como era estar com Vinnie na banda?
Bill- "Vinnie era um cara realmente emocional. Depois que saiu do KISS… Vinnie me convidou a empresariá-lo de forma independente e isso aconteceu por uma semana. Eu pensei que ele ia me deixar doido, muito mal… Vinnie é um paranóico… Ele me fazia perder 15 minutos por semana com ele reclamando no telefone…"
Q- Conte-nos sobre a Dynasty Tour.
Bill- "Ironicamente, a Dynasty Tour não foi bem sucedida, pelo menos como nós acreditávamos que seria… Nós apenas fizemos alguns milhares de dólares. O disco também foi aquém do que imaginávamos. Ele vendeu muito bem, chegou à platina, mas nossa popularidade começou a ruir. Tudo estava passando por ciclos… Acabamos fazendo um grande show, mas em um circuito menor."
Q- Sobre a Reunion Tour estar acontecendo, como você vê a banda junta novamente? Você acha que os antigos problemas podem voltar a atrapalhar?
Bill- "Acho que os problemas voltarão, mais cedo ou mais tarde. Eu odeio dizer isso, mas algumas situações chatas já estão acontecendo. Para começar com a razão deles voltarem a tocar juntos, embora eu tenha gostado disso – tenho que dizer que eu pressionei Gene para isso acontecer por anos, mas nada rolou, pois o problema é que o dinheiro nunca era suficiente. Mas a verdade é que isso aconteceu há alguns anos, e hoje eles estão aí..."
Q- O que você acha do KISS tocar em Columbus, na Georgia, em abril, sem Peter? (que teve tendinite e seu roadie, Ed Kanon, tocou no seu lugar).
Bill- "Se você quer ser um puritano sobre essas coisas, fica mais difícil. Tenho que dizer que, no meu caso, eu provavelmente cancelaria o show… Mas acha que Gene faria o mesmo? Eu não acho. Sabe, eu pensaria assim: “Se o público pagou para ver o show de reunião...”
Q- É verdade que John Lennon e Paul McCartney iam tocar no disco solo de Gene (de 1978), mas Neil Bogart negou-se a manter segredo sobre isso, então não deu certo?
Bill- "Posso afirmar que Lennon e McCartney nunca concordaram com isso."
Q- O que aconteceu com os talismãs usados no filme KISS Meets the Phantom Of The Park?
Bill- "Se Gene não os tem, pois Gene é compulsivo em amontoar tudo quanto é velharia, creio que eles os tenham perdido na beira da estrada”.
Q- É verdade que, antes de Eric Carr morrer, ele foi tratado com desprezo pela banda?
Bill-"Sim, é verdade, é apenas uma das tristes histórias. Embora eu não tenha estado ali, eu sei porque Eric me ligou e falou comigo… Você tem que entender que ele foi um quarto integrante da banda, mas ao mesmo tempo estava fora… Ele nunca foi considerado por Gene e Paul, em particular, um membro do KISS porque ele era o que chamamos de ‘hire hand’ (algo como mãos contratadas), ele era considerado assim… Jamais podia dizer nada. Então, passados os anos, ele sabia de muitas coisas, as que estavam certas e muitas que não estavam, e também sabia que não seria bem tratado… Tristemente, ele veio a ter problemas no coração, e isso era algo que eu não acredito que Gene estava se preocupando, mas o que aconteceu no final foi tão cruel... Acho que a família de Eric sempre acreditou que talvez ele teve um último golpe e morreu por causa de uma conversa que teve com Gene. A parte triste é que Gene e Paul ligaram para ele e disseram que, mesmo que ele se curasse, jamais ficaria no KISS, pois eles não queriam correr mais riscos. No meio disso tudo, eles haviam cancelado todos os compromissos do KISS, pois pretendiam também cancelar seu seguro médico. Eu sei que ele ficou muito angustiado com todas essas coisas horrorosas, e me ligou várias vezes, durante semanas. Depois ele ficou muito ruim e morreu… Você jamais conheceria alguém tão doce como Eric."
Q- Você voltaria a trabalhar com a banda?
Bill- "Não, embora Gene tenha me convidado para almoçar algumas vezes, semanas atrás. Ele mencionou sobre nós voltarmos a trabalhar juntos, mas eu desconfiei que Gene precisava de alguma coisa, por isso me chamou (risos), ai finalmente nos encontramos... 'Nós gostaríamos realmente voltar a comercializar os bonecos'… Ele sabe que eu tenho os protótipos originais dos bonecos, e eu também tenho pintura original (feita a óleo) de "Destroyer" (capa do disco), acho que é o pouco que me sobrou. Está num estojo que eles me deram como presente e também tenho os bonecos antigos feitos para nosso antigo escritório…"
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